Os acidentes com peixes peçonhentos são comuns no Brasil. Os peixes que mais causam acidentes no país são os bagres, entretanto os causados pelo peixe chamado niquim são um dos que têm piores efeitos, pois a ferida pode evoluir rapidamente para uma necrose. Esse peixe se esconde na areia e, por não ser visto, os banhistas e pescadores acabam tocando ou mesmo pisando nele, que, por possuir espinhos nas suas costas e nas laterais do seu corpo, provoca as lesões.
Desde 1996, a pesquisadora Mônica Lopes Ferreira, do Instituto Butantan (SP), vem estudando os peixes venenosos do litoral brasileiro, como o niquim, o peixe-escorpião, os bagres e as arraias. Seus estudos fazem do Brasil um dos países pioneiros em pesquisas sobre peixes peçonhentos. A pesquisa já desenvolveu um soro único que neutraliza os venenos desses peixes peçonhentos, bem como auxilia no tratamento das intoxicações. Estes estudos vêm contribuindo para o conhecimento de como os venenos agem no corpo das pessoas acidentadas, o que ajuda a buscar tratamentos que possam combater as lesões causadas pelas toxinas presentes nos venenos.
Em entrevista ao Canal Ciência, a pesquisadora Mônica Ferreira fala sobre os peixes peçonhentos e sua motivação para estudá-los.
CANAL CIÊNCIA – Como surgiu a sua curiosidade pelos peixes peçonhentos?
Mônica Lopes Ferreira – De férias em Maceió, minha cidade natal, tomei conhecimento sobre a existência de um peixe que causava muitos acidentes. Esse peixe, de nome científico Thalassophryne nattereri, é conhecido como niquim. Os índios assim o chamaram. O nome vem do tupi-guarani e significa ni = feio e quim = espinhoso. Esse peixe causa acidentes porque, diferente de tantos outros, tem uma característica especial. É um peixe peçonhento. Possui quatro espinhos, dois localizados no dorso e um em cada lateral. Todos os espinhos são ocos e estão conectados a glândulas de venenos. Verdadeiras bolsas, repletas de substâncias tóxicas para nós humanos. Banhistas, mergulhadores e principalmente pescadores entram no ambiente desses animais, pisam ou tocam nesses peixes que costumam ficar enterrados na areia. Eles sentem-se agredidos e injetam seu veneno por meio dos espinhos. Foi esse o cenário que encontrei em 1996 em Maceió. Essa história de “um peixe que causava acidentes, para os quais não havia tratamento” despertou meu interesse, minha curiosidade e me estimulou a iniciar uma pesquisa científica sobre os peixes peçonhentos.