A propaganda na internet promete algo tentador: um perfume capaz de atrair o parceiro ou a parceira e facilitar um encontro amoroso. Mas será que esses produtos feitos com feromônio são mesmo capazes de garantir magnetismo sexual? A resposta pode ser bem mais complicada do que parece. Os cientistas já sabem que várias espécies de animais possuem uma estrutura olfativa capaz de detectar os feromônios e levar suas informações até o cérebro. Em algumas delas, esse sistema é mais simples, como nos insetos, mas igualmente eficaz. Essas mensagens podem significar atração sexual, quando as cadelas estão no cio, por exemplo; podem ser usadas por para demarcar um território ou para indicar o caminho até o alimento, como no caso das formigas. Entre os humanos, no entanto, esses comportamentos são bem mais complexos, o que dificulta uma resposta sobre se existem feromônios e qual seria sua importância nas nossas relações. Quando se trata de atração sexual fica ainda mais complicado. Isso acontece porque, nessas horas, é preciso bem mais do que odores: pesam aspectos culturais, emocionais e comportamentais. “O conceito de feromônio está relacionado a uma substância produzida e secretada por um indivíduo, que tem como alvo outro indivíduo da mesma espécie e provoca uma mudança comportamental, normalmente associada à sobrevivência”, diz Mirna Barros, bióloga e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
“No caso dos humanos, desde a década de 1970 procura-se uma substância com essas características, mas até agora não existe nenhuma que, comprovadamente, aja deste modo.”
Mirna Barros, bióloga
Nesse sentido, a primeira incerteza é identificar quais substâncias nos humanos poderiam ser classificadas como feromônios. Mas há ainda um segundo obstáculo: se elas existem, como são captadas e compreendidas pelo cérebro?
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Os participantes tinham então que classificar os rostos do sexo oposto como mais ou menos atraentes. A hipótese inicial dos pesquisadores era de que as mulheres, quando expostas ao odor masculino, enxergariam mais os homens como potenciais parceiros sexuais; e vice-versa. O resultado, no entanto, não foi o esperado e os pesquisadores não conseguiram comprovar a relação. Por outro lado, há quem defenda que as mesmas substâncias do estudo australiano têm, sim, relação com atração sexual. Um grupo de pesquisadores liderado pelo psicólogo Wen Zhou, da Academia Chinesa de Ciências de Pequim, concluiu que homens gays e mulheres heterossexuais tendem a ter comportamentos parecidos quando expostos à substância encontrada no suor e no sêmen masculinos. Durante a pesquisa, os participantes de ambos os sexos foram expostos a imagens de pessoas não identificadas, borradas digitalmente. Em contato com substâncias masculinas, homens gays e mulheres heterossexuais associaram mais os indivíduos das imagens como homens. Por sua vez, homens heterossexuais não reagiram da mesma forma. O mesmo resultado já havia sido encontrado em uma pesquisa realizada na Universidade Karolinska, de Estocolmo, com mulheres lésbicas em 2006. “As pessoas costumam dizer que gostam do ‘cheiro da pele’ da pessoa amada. Dizem: ‘não é perfume, é o cheiro dele ou dela’. Isso é feromônio. Você não entende, mas gosta e aquilo atrai, independente da orientação sexual”, diz João Borzino, médico e terapeuta sexual. Uma das pioneiras das pesquisas sobre feromônios humanos é a neurocientista Martha McClintock, da Universidade de Chicago, que defendeu em artigo científico que mulheres e meninas que convivem juntas acabam sincronizando os seus ciclos menstruais. Isso ocorre, segundo ela, por conta dos feromônios – ideia igualmente defendida e criticada no meio científico. “Ela [McClintock] estudou um grupo de meninas e supôs que a secreção de alguma substância, que era percebida pelas outras, induziu a uma sincronicidade do ciclo, mas não demonstrou isso. De repente, um fator alimentar, o tempo de exposição ao sol ou outras variáveis podem ter feito isso, mas elas não foram analisadas na pesquisa”, diz a professa da Santa Casa. Outro pesquisador da área, Tristram Wyatt, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, defende que os cientistas deveriam tirar o foco do sexo e da atração sexual, um terreno incerto, já que o comportamento humano nesse quesito depende de muitos fatores. Wyatt diz que os estudos deveriam migrar para outras áreas, e cita o caso dos bebês, que parecem responder a substâncias semelhantes a feromônios para encontrar o seio de suas mães e se alimentar.
A sedução está no ar Apesar de tanta indefinição, o dia a dia dá vários indícios de que os odores são uma importante fonte de comunicação, consciente ou não, nossa com o mundo. Sobre o anúncio de perfumes e cremes “com feromônios”, a dúvida é: eles fazem efeito pela composição química ou por que deixam o indivíduo mais confiante? Efeito placebo ou não, o importante é funcionar. “A gente percebe é que esses produtos têm um efeito sugestivo, trazem uma ideia de sensualidade”, diz o médico. Mas não se engane, porque eles também não fazem milagre. “O que as pessoas estão esperando de um feromônio é um resultado imediato, uma mudança de comportamento, mas não vão encontrar. Isso porque não somos como computadores e se você liberar feromônio, isso vai passar por um filtro comportamental, cultural”, completa. Ou seja, a atitude ainda conta muito.