Instigar os museus a construir narrativas não apenas a partir das versões oficiais de grupos dominantes, mas também de outras vozes e visões dos processos históricos, é o desafio proposto pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão vinculado ao Ministério da Cultura (MinC), na 15ª Semana de Museus.
Realizada anualmente na semana em que se comemora o Dia Internacional dos Museus (18/5), a Semana de Museus deste ano está sendo realizada de 15 a 21 de maio. O tema, Museus e histórias controversas: dizer o indizível em museus, está sendo trabalhado em mais de 3 mil atividades diversificadas pelos 1.070 museus inscritos, de 485 municípios do País.
“Os museus devem enfrentar essas lacunas e silêncios construídos nos discursos tradicionais ao longo dos últimos séculos e que acabaram por privilegiar os testemunhos materiais de determinados grupos ou classes dominantes”, afirma o presidente do Ibram, Marcelo Araujo, nesta entrevista concedida ao Portal do MinC, na qual reflete sobre a complexidade do tema da edição de 2017 da Semana e a relevância de se ter uma instituição exclusiva para a definição da política pública de museus.
“O confronto, mesmo que seja com a ausência, desde que ela esteja evidenciada, apresenta um poder comunicacional, gerando o desafio de encontrar caminhos de superação”, esclarece Araujo. “Felizmente, hoje em dia, temos grande possibilidade de resgatar os testemunhos que não estão presentes nos acervos, mas que podem ser buscados e apresentados também como estratégias comunicacionais ao trabalhar com a ausência”, destaca.
Museólogo de formação, Araujo é servidor de carreira do Ibram, do qual assumiu a presidência em junho passado. Iniciou a carreira profissional no início da década de 1980 no Museu Lasar Segall, que foi federalizado em 1984. Antes de assumir o órgão nacional de museus, ele foi cedido ao governo do estado de São Paulo, tenho atuado como secretário de Cultura, de 2012 a 2016 e, durante 10 anos, como diretor da Pinacoteca do estado.
Confira a entrevista:
Em pleno século XXI, muitas pessoas acreditam que os museus são espaços fechados com objetos antigos e obsoletos, que não conversam com os costumes contemporâneos. Nesse cenário, como explicar a importância dos museus?
Eu acredito que os museus, nas últimas décadas, têm conseguido superar esse paradigma, essa visão equivocada e ultrapassada para se transformarem em instituições dinâmicas, com papel determinante no cenário contemporâneo. Isso é resultado de um processo longo, principalmente do desenvolvimento da museologia como uma disciplina que se ocupa dessa relação e que vem dando aos profissionais dos museus um arcabouço conceitual e teórico para, justamente, posicionarem os museus como instrumentos de desenvolvimento. As instituições devem procurar, e já estão procurando, um espaço nas relações contemporâneas como construtoras de memórias e tendo como partida uma interlocução ativa com as comunidades onde estão inseridas. Prova disso é o aumento das visitações a museus nos últimos anos. Assim, busca-se o desencadeamento de processo de valorização do patrimônio local e de exploração desse potencial para a construção de uma sociedade mais igualitária e justa, sendo esse o nosso compromiss
Fonte: http://www.cultura.gov.br