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Estes resultados preliminares, ainda pendentes de revisão para sua publicação em uma revista científica, teriam importantes implicações para o futuro da pandemia, ao afastar o fantasma de uma imunidade raquítica que exija vacinar repetidamente a população. “As pessoas estavam começando a dizer que os anticorpos desapareciam, que as defesas não durariam tanto, que seria preciso revacinar. Pois parece que não. O lógico é que a resposta dure e proteja”, opina Marcos López Hoyos, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia.
O novo estudo é o primeiro a analisar ao mesmo tempo os quatro principais componentes da memória imunológica contra o coronavírus: os anticorpos neutralizantes, que são proteínas que se unem ao vírus e o inutilizam; os linfócitos B, que são as fábricas destes anticorpos; e dois tipos de linfócitos T, outros glóbulos brancos que destroem as células já infectadas. O trabalho, que inclui 185 pacientes de 19 a 81 anos nos EUA, mostra “uma memória imunológica substancial depois da covid”, nas palavras de Crotty, do Instituto de Imunologia de La Jolla (Califórnia). Após cinco meses de acompanhamento, 90% dos convalescentes apresentam pelo menos três componentes dessa memória contra o vírus.
Diante dos novos dados, a proteção pós-infecção “poderia durar anos”, concorda López Hoyos, imunologista do Hospital Marqués de Valdecilla, em Santander (norte da Espanha). “Eu quero lançar uma mensagem de otimismo às pessoas, embora ainda seja muito cedo e tenhamos que ser precavidos: as infecções geram imunidade, e esta imunidade protege”, afirma o pesquisador espanhol.
Os novos resultados são consistentes com o observado no vírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS), outro coronavírus que surgiu na China em 2002 e matou quase 800 pessoas. Um estudo liderado pelo cientista italiano Antonio Bertoletti mostrou em julho que os sobreviventes das SARS conservam linfócitos T contra esse coronavírus 17 anos depois de superar a doença.