Games são o futuro da educação, conclamou recentemente o sociólogo Hermano Vianna. O mercado dos games cresce a cada dia no Brasil e no mundo e se aproxima das salas de aulas. Criar jogos inteligentes e que tragam conteúdos inovadores é a proposta de dois jovens programadores do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense, Erick Passos e André Brandão. Eles souberam aproveitar o conhecimento dos games para desenvolver programas onde jovens e crianças interagem e aprendem ao mesmo tempo, como é o caso deFrança Antártica criado por Erick e do JECRIPE feito por André.
O nome JECRIPE vem das iniciais de Jogo de Estímulo a Crianças com Síndrome de Down em Idade Pré-Escolar e, assim como o França Antártica, demorou 10 meses para ser concluído. Inspirado no trabalho da mãe, a fonoaudióloga Sílvia Brandão, André criou um jogo de estímulo visual que interage com todas as crianças, mas tem como foco os portadoras da síndrome. Com três ambientes diferentes, as crianças participam de atividades que aparecem na sequência: primeiro, a casa das bolhas; depois a casa das músicas, seguida pela creche da vovó. Passado em uma ilha multicolorida, o jogo conta com dois personagens, Betinho e o bebê Samuca, ambos down.
Segundo André, o apoio veio de dentro de casa:
“Observei minha mãe utilizando jogos com crianças que tem necessidades especiais e percebi que não havia nenhum programa de computador nessa área” conta o programador. “Não só a inspiração veio da minha mãe como todo o apoio técnico, pela imensa experiência que ela tem nessa área.”
Enquanto a criança joga, ela aprende a lidar com as ferramentas do computador e, ao mesmo tempo, estoura bolhas de sabão, arruma brinquedos, tudo em um universo que mistura música e dança. Com brincadeiras simples, como arrastar e soltar peças pela tela, os pequenos desenvolvem sua atividade motora, sempre com a assistência de um especialista na área.
Já França Antártica conduz o jogador para uma viagem histórica, com o bravo índio Jeró em pleno século XVI. Passada em 1555, a aventura começa antes da invasão francesa da esquadra de Villegagnon, pano de fundo da trama. Filho de um português, o herói Jeró é criado em meio aos índios tupiniquins e acompanha a guerra entre indígenas, franceses e portugueses, tendo que optar entre os grupos para escolher qual sua verdadeira nação. O game tem como foco principal apresentar às crianças um pouco da história do país, atrelando cultura e educação à simples atividade de jogar.
Segundo o programador Erick Passos, a ideia veio do cinema: “o jogo é reflexo de um projeto de quatro anos, que começou com um grupo de cinema da UFF. A ideia inicial era uma animação sobre o tema das invasões francesas no país. Hoje virou um jogo, e preciso ressaltar que tivemos todo o cuidado com a pesquisa de indumentárias, animais e frutas da época.”
Ambos os programadores são jovens, Erick tem 33 anos e André, 31, e cresceram com os games, transformando o prazer em profissão:
“Quando criança, eu adorava jogos, especialmente os games de esportes. Quando comecei a trabalhar fiz disso meu trabalho, estudo e diversão” revelou André. Já Erick trilhou um longo caminho:
“Hoje sou um professor de ciência da computação, mas meu envolvimento começou por interesse pessoal, com estudo de assuntos ligados ao desenvolvimento de jogos. Em 2007 e 2008 desenvolvi dois games que foram premiados. Também trabalhei em vários outros projetos, alguns experimentais em eventos de curta duração ou mesmo só por hobby e aprendizado.”
Atualmente os dois jogos têm suas versões iniciais disponíveis paradownload, uma maneira que os programadores encontraram de divulgar seu trabalho, chamar atenção para a necessidade de novas iniciativas nessa área e ao mesmo tempo encontrar interessados em financiar as próximas etapas dos projetos. Para o desenvolvimento dos games, Erick e André contaram com os recursos de um edital na área de mídias digitais, além do apoio da UFF.
André acredita que mais editais desse tipo são necessários: “iniciativas como essa tem sua importância porque alavancam idéias, que podem ser realizadas apenas com uma verba inicial. Tínhamos a obrigação de entregar apenas uma demo, mas optamos por acelerar os trabalhos e entregar uma versão completa. Esperamos divulgar mais e mais o nosso projeto e que muitas crianças e adolescentes curtam as nossas criações.” Complementando, Erick fala sobre seu futuro na computação: “pretendo continuar usando jogos como ferramenta de ensino de computação. Atualmente estou com dois novos games para iPhone sendo desenvolvidos, um deles é de estratégia ambientado na época dos cangaceiros no sertão nordestino, minhas origens, já que sou de Teresina, Piauí.”
Colaboração de Gustavo Durán
Fonte: http://www.cultura.rj.gov.br/