Outra face da ignorância: não reconhecer a importância central da Ciência Básica para o desenvolvimento da Inovação e, consequentemente, do próprio desenvolvimento Econômico e Social, incluindo, é claro, o desenvolvimento do tripé: Industrial, do Agro e dos Serviços. É tal a ignorância vergonhosa e destruidora, que decidi usar nesta crônica um Título Bizarro – “Cura do Câncer com Vácuo e Antimatéria?”
Será que os políticos e burocratas de plantão, inclusive os responsáveis pelo atual MCTI, sabem a resposta? E a maioria dos leitores, incluindo os muitos que não são leitores e até jovens que passaram no ENEM? Quando digo resposta, não é apenas buscar no Google ou na enciclopédia: é saber o conteúdo histórico e até conceitual no seu mais alto sentido – o Epistemológico. Vou esclarecer: por volta de 1930, a Física estava em ebulição conceitual, com a quebra de paradigmas da Física Clássica e a entrada da Relatividade e da Física Quântica. Essa época talvez só possa ser comparada ao da revolução do conhecimento humano na Grécia, ou ao alto Renascimento que desembocou na Revolução Científica com Galileu, Newton e Leibniz, Descartes e culminando no século XIX com Faraday, Maxwell e Boltzman.
Dirac, essencialmente físico teórico matemático, propõe um cenário radical, até para os físicos acostumados a viajarem em hipóteses surrealistas: o vácuo não é vazio! Ao contrário, é cheio de partículas com energia negativa, partículas essas que seriam a antimatéria das existentes no mundo externo ao vácuo!
Essa foi uma dose muito forte de intoxicação teórica até para o próprio Dirac, que disse “se as equações têm tal beleza, o que elas nos dizem devem ser verdades”. Parece incrível para um capitalista de Wall Street ou um corrupto praticante poder acreditar que tudo isso é coisa séria, transformável no Deus dinheiro sonante. Mas, os fatos mostraram que Dirac estava correto e que sua aparente ingenuidade teve bases profundas: da tal beleza formal nasceram verdades práticas, reais, sonantes como ouro, não de Wall Street, mas da Casa da Moeda da Natureza – a realidade experimental.
Dirac ganhou o Prêmio Nobel em 1933 – na época foi o mais jovem até então ganhador de um Nobel. E a pergunta inicial da cura do câncer? Explicação: se acelerarmos uma partícula, por exemplo um elétron negativo com energia suficiente para ela arrancar do vácuo sua anti-partícula, ela formará com a anti-particula pósitron um verdadeiro átomo tipo hidrogênio nomeado como positronium. Porém esse positronium é super instável, os dois se aniquilam e é criado um raio gama de alta energia. Esses raios gama podem matar as células cancerígenas e curar o câncer! A máquina que acelera os elétrons é um acelerador de elétrons já fabricados por várias empresas e há muito já instalados no mundo e no Brasil.
Se você então disser que um acelerador para a cura radioterápica do câncer funciona com o vácuo e anti-matéria, estará absolutamente certo!
(Artigo do Prof.Sérgio Mascarenhas – Acad.Brasil.Ci./Presid.Honor.SBPC Projects Coordinator – Inst.Physics,Univ.S.Paulo ,S.Carlos, Brazil – Director Latin American Studies)
Assessoria de Comunicação – IFSC/USP
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